Creio que devem existir mais informações por trás do valor indicativo de mortes, que envolvem os acidentes no trânsito brasileiro, do que aquele simples e frio número apresentado anualmente.
Gostaria de enfatizar, que a maioria dos casos avaliados como acidentes, são na realidade casos “óbvios” de imprudência.
(Então o equívoco já começa por aí). Mas voltando a origem…
Por vezes questiono:
– Qual a efetividade desses “termômetros numéricos” para com a situação viária brasileira?
– Será que os formuladores de políticas públicas e a sociedade saberão abraçar ações desafiadoras para conter os diversos motivos que alicerçam estes dados?
Outra questão importante é:
– Será que conseguimos entender estes números e perceber que eles não são apenas um número?
(Um número tal qual aquele que os estudantes recebem nas provas?)
É comum encontrar os que não conseguem interpretar de forma ampla e detalhada os resultados publicados.
(Você consegue?)
Colabora ainda para essa dificuldade a ousadia das pesquisas, quando expõem aos olhos da sociedade, por vezes, “um número” simplesmente…
Ficando “ele” ali, a “cabresto” parado…
…um número, “nu”, “cru”, “indiscutível” e “soberano”.
No entanto, em outras publicações, somos brindados com aquele “despejar” bem extenso de informações…
(Se é que podem ser chamadas de informações).
E como de costume, não raro, a imensidão de números…
…e, sim, microscópicas análises, conclusões fantasmas, possibilidades insuficientes ou minguadas sugestões…
…referências, que na maioria das vezes só são divulgadas, “meses” ou até “anos” após a coleta dos dados……e que por “lei” da própria dinâmica dos eventos, quem sabe até já mudaram.
(Cabe salientar que a informação não é estática, e sim dinâmica)
E com frequência – é sensato observar – os referidos dados são analisados apenas por especialistas.
(Existem grupos que só executam isso)
Você é um especialista?
Na ausência da compreensão plena do que está por trás dos números divulgados, a sociedade não consegue interpretar…
(Como obter mudanças efetivas no “dia a dia”, ao exibirmos dificuldades de entender?)
Aos responsáveis pelas pesquisas caberia citar também, a maneira como se obtêm e se calculam estes dados.
(Será que acreditam que seja difícil a compreensão destas variáveis por parte de “todo” cidadão?).
Este “saber” torna-se desta maneira informação privilegiada de um diminuto grupo.
(Penso eu!)
Acredito que o cidadão gostaria de saber o que está no centro dessas análises.
– Será o número de mortes um dado estatístico somente?
– Estarão as causas destes números atuando como “ator principal” no futuro?
– E as omissões, as manipulações, assim como as perdas dos “dados”? Estão tendo vigilância?
E por ai vão os questionamentos, que normalmente ficam “sem respostas”.
Por vezes visto a pele do “esteticista” e questiono sobre qual será a intensidade de “maquiagem” contida nestes números?
E mesmo assim, cuidadosamente quando olho os resultados, não tenho dimensão da “íntegra”…
Você tem?!
(Penso que o cidadão não está cobrando adequadamente os responsáveis por essa “parceria”)
E ainda, o que efetivamente os resultados representam e o que ainda ficou “escondido” deste cálculo?…
(Segredos?! Ou “estão omitindo” o que sabem?)
Insisto na “tecla” que os resultados das estatísticas guardam muitas outras implicações além das listadas anualmente, e que os números não nos mostram a sua verdadeira realidade.
Isso não significa que eles, os dados estatísticos, sejam dispensáveis… Eles são, sim, um instrumento importante e, como tal, devem ser sempre avaliados e ajustados para que sua análise permita intervir e melhorar a qualidade da mobilidade no seu todo, em vez de apenas gerar “ações ineficazes” e “modestas”.
(Por vezes são até usados em discursos “inflamados” e “oportunistas” por formuladores de políticas públicas)
Os números não falam, “eles” simplesmente expressam o que desejamos que “eles” expressem.
(Podem acreditar, pois essa é uma realidade matemática).
Não desconsiderando ainda que pode ocorrer a “magia” de caminharem como marionetes em nossas mãos, para onde e bem desejarmos.
Dizem que temos um lado “direito” que mostramos para todo mundo, e um lado “avesso”…que escondemos.
Então, desejo que a “coleta de dados” sobre a mobilidade viária brasileira, suas análises e os resultados, não saiam por aí nos imitando!
Gostaria de terminar esta reflexão, contando uma pequena história que espero “servir como uma luva” neste contexto…
Fui ministrar um curso numa cidade distante de Porto Alegre.
Chegando, algo chamou atenção…
Na avenida principal existia um “outdoor” com duas propagandas, uma ao lado da outra…
(Bem, até aí nada de anormal)
Mas o que elas continham sim, era “peculiar”…
Em uma dizia o texto:
– Curso “fulano” aprovou 60% dos seus alunos para o vestibular na Universidade Federal “X”.
E na outra (ao lado bem grudadinha):
– Curso “beltrano” aprovou 100% dos seus alunos para o vestibular na Universidade Federal “X”.
Ambos os cursos lutando pelo mercado dos “pré-vestibulares”, ao ingresso dos seus alunos na mesma Universidade.
Ao olhar imediatista, o curso “beltrano” seria a escolha preferencial, pois aprovou 100% dos seus alunos…
Sim!?
Bem, depois fiquei sabendo que o curso “fulano” (aquele que aprovou 60%) tinha 100 dos seus alunos concorrendo à dita Universidade…
Então, por conclusão óbvia, foram aprovados 60 alunos deste curso na Universidade “X”.
(Matematicamente verdadeiro ok?)
No entanto o curso “beltrano” (o que aprovou 100%) tinha somente 1(um) aluno do seu curso concorrendo…
…e este único aluno foi aprovado na Universidade “X”.
Logo, aprovou somente 1(um) aluno.
(Também matematicamente verdadeiro)
Análise:
O curso “fulano” aprovou menos percentualmente (foram 60%), mas aprovou mais no número de alunos (60 alunos).
O curso “beltrano” aprovou mais percentualmente (foram 100%), mas aprovou menos no número de alunos (1 aluno – o seu solitário concorrente).
(Entendeu o “espírito da coisa”?)
Se a sua resposta foi a de que entendeu, pergunto:
– Em qual curso você matricularia seu filho?